quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Cidades conectadas


*Por Adriano Dias

Na busca constante por inovação, não apenas organizações privadas como as gestões públicas estão de olho na aplicação de conceitos transformadores. Entre eles, o de smart cities, ou cidades inteligentes, espaços urbanos onde as pessoas possuem necessidades básicas atendidas com o apoio da tecnologia. Situações como trânsito congestionado, transporte público sem conforto, violência urbana, catástrofes naturais (ex. inundações, alagamentos, deslizamentos de massas, etc.), áreas sem aparelho estatal suficiente (itens de infraestrutura e serviços essenciais), economia local estagnada, falta de espaços públicos de convívio e entretenimento, problemas na limpeza, manutenção e urbanização de áreas, podem ser minimizados e até resolvidos com o apoio de soluções digitais.

A questão central, porém, é como transformar uma cidade comum em inteligente sob a ótica da tecnologia? Ainda que o conceito esteja em constante discussão, poucas são as gestões públicas no Brasil que estão mobilizadas para transformar os municípios. De acordo com dados da pesquisa TIC Governo Eletrônico 2017, conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), somente uma parcela de 18% dos municípios brasileiros possuem planos para serem convertidos em cidades inteligentes. Essa evolução, no entanto, não é simples. Os investimentos aplicados podem gerar mudanças de forma direta e indireta: na primeira situação, com a participação ativa da população a ser beneficiada e, na segunda, com a liderança da gestão pública.

Transformação direta

Vamos imaginar algumas aplicações digitais que poderiam ser desenvolvidas para auxiliar gestores a evoluir as cidades em espaços urbanos inteligentes. A transformação direta poderia ser obtida através do desenvolvimento de aplicativos ou dispositivos para atingir uma série de questões comuns às cidades.  Na área de segurança pública, ferramentas digitais poderiam auxiliar a Guarda Municipal e polícias no monitoramento, quando da aproximação de um indivíduo agressor de mulheres que estejam sob proteção judicial; no mapeamento de regiões com maior incidência de ocorrências criminosas; na identificação e ação nos locais com incidência de acidentes e obras em vias públicas que, por sua vez, ajudarão a escoar o trânsito e evitar congestionamentos. Para ajudar na mobilidade urbana, é possível estimular empresas especializadas, por meio de editais públicos, a desenvolver aplicações para auxiliar motoristas e usuários sobre os horários em tempo real dos próximos coletivos em circulação; ferramentas para indicar aos motoristas o melhor caminho a seguir no trânsito; e aplicativos com função de rede social para sugerir eventos sociais públicos existentes na cidade e que podem, eventualmente, alterar rotas. Essas são apenas algumas possibilidades, parte delas já existentes, que auxiliam diretamente no bem-estar dos cidadãos, os quais podem participar e colaborar com o processo tanto como autor quanto como usuário das informações geradas.

Por exemplo, quando da existência de um aplicativo que indica onde há uma ocorrência policial em curso, ao perceber um crime o cidadão pode disparar um alerta para os demais usuários da ferramenta para evitarem a região atingida. Esse é o caso do OTT (Onde Tem Tiroteio), em uso no Rio de Janeiro. Já no caso da aplicação que alerta quando da aproximação de um indivíduo agressor de mulheres serve para, através de um botão de pânico e/ou de alerta, a usuária informar o poder público quanto ao descumprimento da sentença de manutenção do afastamento mínimo por parte do agressor. Dispositivos como esse já estão em operação em Vitória, no Espírito Santo.

Transformação indireta

Indiretamente, outras soluções podem ser adotadas pelas gestões públicas para contribuir com a transformação de cidades comuns em inteligentes: adoção de serviços de informação por SMS para alertar sobre obras em vias e espaços públicos, a fim de orientar os motoristas a evitar essas áreas em seus trajetos; serviços de alertas sobre a iminência de chuvas, especialmente em áreas de risco; aplicativos que orientam para a ocorrência de chuva forte em determinadas áreas, com base em sensores de clima; oferta de serviço de concierge para turistas que estão em visita a cidade; ferramenta de busca sobre o município; serviço de qualificação profissional por Ensino à Distância, bem como o estímulo ao desenvolvimento de um centro de segurança cidadã. No caso desses exemplos, a administração pública municipal cumpre o papel de autora/demandada, enquanto o cidadão é o usuário das informações e serviços.

É preciso salientar, contudo, que uma só tecnologia dificilmente irá atender as demandas responsáveis por transformar uma cidade comum em inteligente. É preciso interoperar com outros players existentes nos ecossistemas de TICs das cidades e estados. De todo modo, é crucial entender a finalidade maior de cada solução em termos de resultados concretos e que toda ação deve ser orientada para o bem estar das pessoas.

Fonte: Adriano Dias (Assessor de desenvolvimento de negócios estratégicos da Dígitro Tecnologia)


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