*Por
Adriano Dias
Na busca constante por inovação, não
apenas organizações privadas como as gestões públicas estão de olho na
aplicação de conceitos transformadores. Entre eles, o de smart cities, ou
cidades inteligentes, espaços urbanos onde as pessoas possuem necessidades
básicas atendidas com o apoio da tecnologia. Situações como trânsito
congestionado, transporte público sem conforto, violência urbana, catástrofes
naturais (ex. inundações, alagamentos, deslizamentos de massas, etc.), áreas
sem aparelho estatal suficiente (itens de infraestrutura e serviços
essenciais), economia local estagnada, falta de espaços públicos de convívio e
entretenimento, problemas na limpeza, manutenção e urbanização de áreas, podem
ser minimizados e até resolvidos com o apoio de soluções digitais.
A questão central,
porém, é como transformar uma cidade comum em inteligente sob a ótica da
tecnologia? Ainda que o conceito esteja em constante discussão, poucas são as
gestões públicas no Brasil que estão mobilizadas para transformar os
municípios. De acordo com dados da pesquisa TIC Governo Eletrônico 2017,
conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade
da Informação (Cetic.br), somente uma parcela de 18% dos municípios brasileiros
possuem planos para serem convertidos em cidades inteligentes. Essa evolução,
no entanto, não é simples. Os investimentos aplicados podem gerar mudanças de
forma direta e indireta: na primeira situação, com a participação ativa da
população a ser beneficiada e, na segunda, com a liderança da gestão pública.
Transformação direta
Vamos
imaginar algumas aplicações digitais que poderiam ser desenvolvidas para
auxiliar gestores a evoluir as cidades em espaços urbanos inteligentes. A
transformação direta poderia ser obtida através do desenvolvimento de
aplicativos ou dispositivos para atingir uma série de questões comuns às
cidades. Na área de segurança pública, ferramentas digitais poderiam
auxiliar a Guarda Municipal e polícias no monitoramento, quando da aproximação
de um indivíduo agressor de mulheres que estejam sob proteção judicial; no
mapeamento de regiões com maior incidência de ocorrências criminosas; na
identificação e ação nos locais com incidência de acidentes e obras em vias
públicas que, por sua vez, ajudarão a escoar o trânsito e evitar
congestionamentos. Para ajudar na mobilidade urbana, é possível estimular
empresas especializadas, por meio de editais públicos, a desenvolver aplicações
para auxiliar motoristas e usuários sobre os horários em tempo real dos
próximos coletivos em circulação; ferramentas para indicar aos motoristas o
melhor caminho a seguir no trânsito; e aplicativos com função de rede social
para sugerir eventos sociais públicos existentes na cidade e que podem,
eventualmente, alterar rotas. Essas são apenas algumas possibilidades, parte
delas já existentes, que auxiliam diretamente no bem-estar dos cidadãos, os
quais podem participar e colaborar com o processo tanto como autor quanto como
usuário das informações geradas.
Por
exemplo, quando da existência de um aplicativo que indica onde há uma
ocorrência policial em curso, ao perceber um crime o cidadão pode disparar um
alerta para os demais usuários da ferramenta para evitarem a região atingida.
Esse é o caso do OTT (Onde Tem Tiroteio), em uso no Rio de Janeiro. Já no caso
da aplicação que alerta quando da aproximação de um indivíduo agressor de
mulheres serve para, através de um botão de pânico e/ou de alerta, a usuária
informar o poder público quanto ao descumprimento da sentença de manutenção do
afastamento mínimo por parte do agressor. Dispositivos como esse já estão em
operação em Vitória, no Espírito Santo.
Transformação indireta
Indiretamente,
outras soluções podem ser adotadas pelas gestões públicas para contribuir com a
transformação de cidades comuns em inteligentes: adoção de serviços de
informação por SMS para alertar sobre obras em vias e espaços públicos, a fim
de orientar os motoristas a evitar essas áreas em seus trajetos; serviços de
alertas sobre a iminência de chuvas, especialmente em áreas de risco;
aplicativos que orientam para a ocorrência de chuva forte em determinadas
áreas, com base em sensores de clima; oferta de serviço de concierge para
turistas que estão em visita a cidade; ferramenta de busca sobre o município;
serviço de qualificação profissional por Ensino à Distância, bem como o
estímulo ao desenvolvimento de um centro de segurança cidadã. No caso desses
exemplos, a administração pública municipal cumpre o papel de autora/demandada,
enquanto o cidadão é o usuário das informações e serviços.
É preciso
salientar, contudo, que uma só tecnologia dificilmente irá atender as demandas
responsáveis por transformar uma cidade comum em inteligente. É preciso
interoperar com outros players existentes nos ecossistemas de TICs das cidades
e estados. De todo modo, é crucial entender a finalidade maior de cada solução
em termos de resultados concretos e que toda ação deve ser orientada para o bem
estar das pessoas.
Fonte: Adriano
Dias (Assessor de desenvolvimento de negócios estratégicos da Dígitro
Tecnologia)
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