Cidades
movidas à tecnologia, com aplicativos integrando a população com os serviços
públicos, wi-fi gratuito nas ruas e
melhor aproveitamento dos espaços e recursos, esse é o cenário que vem à mente
da maior parte das pessoas quando falamos em cidades inteligentes.
O
conceito, porém, pode estar mais próximo da realidade que vivemos nas cidades
brasileiras hoje do que isso. Muito além da tecnologia, especialistas defendem
que o significado de cidade inteligente é amplo e indefinido. A consultora de
cidades inteligentes na Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Thaís
Nahas explica.
“Existem
várias ideias do que seriam as cidades inteligentes, as empresas de tecnologia
dizem que são cidades totalmente tecnológicas, mas existe também o conceito de
que são cidades para as pessoas. A gente tem que começar com as pessoas, seu
entendimento sobre o lugar em que moram e integração com a cidade, depois
disso, podemos usar a tecnologia para tornar os serviços mais eficientes”, comenta.
Como se faz uma cidade inteligente
O
pesquisador Ph.D em Urbanismo norte-americano Boyd Cohen defende que
desenvolvimento tecnológico e a integração social fazem parte das três gerações
de cidades inteligentes. Não necessariamente todos os municípios que se propõem
a desenvolver projetos com base neste conceito passarão pelos três estágios.
O
teórico defende que a primeira geração é a top-down, quando tecnologias de
ponta são inseridas dentro das cidades. Nesse caso, o desenvolvimento,
geralmente, é encabeçado por empresas de tecnologia.
A
segunda geração é liderada pelo governo em instâncias municipais, estaduais ou
federais. Nela, os governantes implantam tecnologias que ajudam a fazer a
gestão da cidade e que melhoram o acesso a serviços e ambientes públicos.
Por
fim, a terceira é baseada no conceito de governança em rede, quando líderes
locais se unem à gestão da cidade e empresas para pensarem juntos nas
necessidades e realidades da região.
(Fonte:
TecMundo / Silmara Slobodzian)
As
gerações representam as diferentes formas como um projeto de cidade inteligente
pode ser pensado. Cohen defende que o melhor modelo é o que une eficiência
econômica, qualidade de vida e sustentabilidade.
Como pensar cidades inteligentes no
Brasil
Thaís
aponta que, independente do modelo de cidade inteligente escolhido por uma
determinada região, o primeiro passo é ter dados sobre a população a fim de
pensar em soluções realmente acessíveis e úteis. “Pensando no transporte, é
preciso entender como as pessoas se locomovem, de onde vem e para onde vão,
qual modal utilizam, para criar uma solução inteligente”.
A
consultora ainda defende que não vê cidades inteligentes hoje ainda no Brasil,
o que existe são projetos pontuais que englobam um bairro ou um serviço dentro
deste conceito. Os bairros projetados pela Planet são um exemplo.
A
empresa ítalo-britânica pretende construir 10 regiões inteligentes no Brasil
até 2022. Apesar do título do projeto trazer o termo smart city,
operacionalmente a empresa constrói bairros abertos adequados a cada região a
fim de oportunizar a democratização do acesso ao conceito de cidades
inteligentes.
“Muitos
projetos de cidades e regiões inteligentes são pensados para pessoas ricas, o
conceito que defendemos é de cidade ao alcance de todos, em que pessoas com
diferentes faixas de renda possam morar perto, o que gera em termos de inclusão
e segurança números fantásticos”, explica Susanna Marchionni, CEO da Planet no Brasil.
Funciona
assim: a empresa adquire um terreno de no mínimo 160 hectares, constrói uma
infraestrutura moderna com lâmpadas de led e acesso a wi-fi, por exemplo, e
vende os lotes. Aos moradores da região, se dá o acesso a um aplicativo por
onde podem verificar os acontecimentos do bairro, como horário de cinema ou
festas, trocar serviços e informações, além de pedir ajuda se necessário.
(Fonte: Planet/ Divulgação)
A tecnologia é desenvolvida na Itália e Susanna garante que os
dados dos usuários não são usados a fim de gerar renda. A monetização,
portanto, ficaria a cargo de ofertas especiais para os moradores do bairro
anunciadas via aplicativo com comissão para a Planet e venda dos lotes e casas.
A infraestrutura do bairro permite que os serviços sejam mais
integrados e tem como objetivo levar estas facilidades a pessoas de diferentes
classes sociais. Susanna salienta que “existe uma interação social muito grande
no projeto, todos os lotes têm o mesmo valor, não privilegiando áreas nobres”.
O projeto piloto foi construído em São Gonçalo do Amarante (CE),
em uma área de 330 hectares e um custo total de US$ 50 milhões. Até agora foram
entregues 90 hectares e as primeiras famílias se mudaram em janeiro, existem
casas disponíveis a partir de RS 100 mil. Um novo projeto será construído em
Natal com aportes de R$ 140 milhões e deverá abrigar 15 mil pessoas. Além
disso, o terreno mínimo é um lote de 200m².
Com a intenção de levar o conceito de cidades inteligentes para
bairros acessíveis a todos, o projeto é aberto, o que significa que não existem
portões entorno e que a manutenção da infraestrutura entregue é de
responsabilidade das prefeituras locais.
(Fonte: Planet/ Divulgação)
Aproximando conceito e realidade
Mais do que cidades como a dos Jetsons, o conceito de regiões
inteligentes envolto nos projetos pensados para o Brasil precisam ser
inclusivos e entender as diferentes realidades presentes nas cidades.
Pensado para pessoas, um projeto inteligente é o que alia
tecnologia a melhor execução de serviços públicos e qualidade de vida, dentro
de um ambiente com infraestrutura para que todos possam aproveitar os
benefícios.
Thaís conclui que para alcançar este conceito não
necessariamente é preciso de tecnologia, o importante é oferecer os serviços
com qualidade. Para ela, uma cidade não alcança o título de inteligente é
preciso uma construção constante. “É como quem diz ‘alcançamos a felicidade’,
fazendo uma analogia, não existe um momento em que se diz ‘alcançamos um modelo
de inteligência’ é uma construção sempre”, finaliza.
Fonte: TecMundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário