João para na cafeteira e pega um café
para a viagem. Distraído, só percebe que a tampa está solta quando o líquido
quente se espalha pela sua camiseta. Ele não tem uma segunda muda de roupa, e
nem precisa: sua camiseta foi fabricada para repelir qualquer tipo de líquido.
Se você acompanhou o primeiro
capítulo desta série, sabe que nosso personagem só conseguiu um final feliz
pela invísivel
ciência da nanotecnologia. Neste especial, o Canaltech vai mostrar,
em termos simples, o que a nanotecnologia compreende. A série será apresentada
em sete capítulos e toda quarta-feira você poderá acompanhar uma nova
reportagem.
Vale relembrar que a nanotecnologia é
a manipulação de átomos e moléculas para a construção de um determinado
material com características e propriedades específicas. Hoje, cientistas e
pesquisadores já conseguem criar cosméticos mais eficientes e roupas que não
molham. Já aplicações mais "futurísticas", como o transporte do
medicamento até o órgão doente, devem demorar para chegar ao mercado.
Na área têxtil, as aplicações não se
limitam às roupas que repelem água, café, vinho e qualquer outro líquido. Em
todo o mundo, empresas estão desenvolvendo tecnologia para a criação de roupas
que controlam a temperatura, protegem contra mosquitos e até antiodor (vá para
a academia com a mesma camisa todos os dias).
A técnica é denominada como nanocoating (nano-revestimento, em
tradução livre) e pode ser utilizada diretamente na fibra de tecidos ou com a
aplicação de um produto na forma de spray sobre a peça de roupa.
No Brasil, a Nanox é uma das empresas
que estão investindo na nanotecnologia. A empresa química produz os acabamentos
que são inseridos no tecido das roupas e vende sua tecnologia para as
indústrias, que podem a aplicar em qualquer tecido, desde roupas até cortinas.
Um dos produtos da Nanox consegue
controlar maus odores e combater bactérias e fungos. De acordo com a empresa,
sua fórmula não tem nenhum tóxico e pode ser utilizada em peças mais delicadas,
como roupas íntimas e de academia.
"Esta tecnologia é à base de
prata nanotecnológica, um material usado desde antes de Cristo. As pessoas não sabiam
que tinha esse efeito [antiodor e antibacteriano], mas sabiam que se você
guardar o vinho em uma garrafa de prata, ele dura mais tempo do que em um jarro
de barro. Então, usamos materiais de uso comum, a diferença está na aplicação e
na base que é usada para que ele penetre na fibra do tecido e consiga uma
fixação", explicou o coordenador da área têxtil da Nanox, Guilherme
Tremiliosi. "A nanotecnologia não é nenhum monstro de sete cabeças. Só
utilizamos o material de uma forma um pouco mais inteligente".
Ele conta que os clientes da Nanox
atualmente atendem demandas específicas, como a uniformização profissional. As
peças ainda não estão disponíveis no mercado para os consumidores comuns.
"Nosso produto ainda é muito recente, mas provavelmente até o fim do ano
as roupas [com nanotecnologia] devem estar nas prateleiras das
varejistas".
Nesta nova estratégia de
comercialização, a Nanox ofereceria sua tecnologia diretamente para as
confecções, não mais para as tecelagens.
"Isso gera uma demanda lá na
ponta. Eu apresento a tecnologia para a confecção, que vai enquadrar o que é
relevante para a sua produção, e depois chego na tecelagem e digo 'O cliente
tal quer tal tecido, você consegue atendê-lo?'", explicou Tremiliosi.
Segundo ele, a Nanox está direcionando
seus esforços para as roupas infantis e esportivas, que também poderiam se
beneficiar de outras aplicações criadas pela empresa.
"Temos uma tecnologia que
protege contra o calor. Neste caso, é como se a roupa estivesse recoberta por
micro espelhos que refletem a radiação eletromagnética do Sol. Isso faz com que
a roupa esquente menos", disse o coordenador. "Nosso material
consegue reduzir a temperatura da peça em cinco ou seis graus".
A tecnologia está sendo desenvolvida
em parceria com a Fapesp e também protege contra a ação dos raios UV. A Nanox
recomenda seu uso para a produção de cortinas, fardas de soldados, ternos de
seguranças e surfistas. A empresa brasileira ainda conta com uma aplicação
contra mosquitos.
Já nos Estados Unidos, a startup Ably
criou sua própria tecnologia para a produção de roupas que não molham nem
mancham. Suas peças também conseguem repelir odores.
Nesse caso, consumidores conseguem
comprar as peças pelo site da empresa. Os preços de camisetas variam de US$ 48
(cerca de R$ 185) a US$ 120 (ou R$ 464). Calças, blusas de frio e shorts
esportivos também são comercializados.
A empresa, que carrega o slogan
"WhateverProof" (à prova de qualquer coisa, em tradução livre), diz
que suas roupas secam 40% mais rápido do que aquelas com tecido comum – as
peças molham apenas quando mergulhadas na água.
A Ably até brinca que seus clientes
podem usar as peças durante toda a semana sem a necessidade de lavagem.
"Não é suor que faz as roupas cheirarem mal – são as bactérias que crescem
quando o suor penetra no tecido.
Nossa tecnologia repele o líquido e a
sua transpiração evapora através do tecido respirável, deixando as suas roupas
cheirando a frescura mesmo após um treino intenso".
Estas primeiras experiências têm
potencial para revolucionar o setor têxtil. Os que precisam trabalhar em roupas
sociais podem se beneficiar da aplicação que promete controlar o calor. Já
hospitais conseguiriam vestir seus funcionários com peças que evitam a
contaminação de bactérias.
Dentro de casa, pais não se preocupariam
mais com as roupas manchadas pelas crianças. E também economizariam dinheiro e
tempo: sem precisar lavar tantas peças, a conta de energia elétrica e água
caem. Isso sem falar no alívio para as rachaduras dos dedos de quem lava à mão.
E se engana quem pensa que as
aplicações da nanotecnologia acabam por aí. Um dos campos mais promissores para
a ciência é a medicina.
Atualmente, cientistas trabalham em
métodos para conseguir encaminhar aos órgãos doentes medicamentos e em novos
tratamentos para o câncer com nanopartículas – este será o assunto da nossa
próxima reportagem.
Fonte: Canaltech
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