Na última década, os games de luta
têm ganhado cada vez mais capricho em torno do seu enredo. No caso de Mortal Kombat, que teve um reboot em
2011 com o lançamento de um jogo homônimo, o salto de qualidade e complexidade
para as tramas foi notório. Este recomeço também serviu para que a boa e velha
mecânica de combos e combates laterais retornasse, deixando o produto muito
mais atrativo para os novos jogadores e proveitoso para os da velha guarda, que
se reapaixonaram pela franquia depois de anos com trabalhos tenebrosos.
Enfim chegamos a 2019, um dos últimos
anos da atual geração de consoles, com o mais completo e sanguinário Mortal Kombat de todos os tempos.
Com mecânica de luta refinada, personalização de personagens como nunca antes
vista, história cheia de reviravoltas e fatalities viscerais, Mortal Kombat 11 apresenta-se como
um jogo pronto para agradar a todos e que deve encerrar mais um ciclo dentro
dessa série de jogos de luta que é das mais apaixonantes.
“Desfrutem destes momentos como se
eles fossem os últimos”, já dizia Shang Tsung.
Uma história digna de novela mexicana
(no bom sentido)
*Fique tranquilo que esta análise não
contém spoilers
Com os eventos de Mortal Kombat X terminados com
a derrota de Shinnok, vimos que
alguns dos principais personagens da trama que cercam o game estavam com futuro
bem nebuloso. Caso, especialmente, de Raiden, que se corrompera para, segundo
ele próprio, salvar o Plano Terreno. E, na esteira dessas incertezas, é que
seguimos na história de MK11.
Com uma Cassie Cage mais madura e assumindo
uma postura de liderança dentro das Forças Especiais — e tendo Jacqui Briggs
como grande aliada —, logo a ação começa em ritmo frenético, com uma primeira
missão que vai pautar todo o restante do enredo e que, de cara, nos trará
surpresas nada agradáveis.
Cetrion, uma
das novas personagens que aparecem em MK11 (Captura de tela: Felipe Ribeiro)
Surpresas
essas que seguem aparecendo à medida que Kronica, a grande vilã do jogo, toma
as rédeas da situação e coloca todos os povos que conhecemos dentro do universo
de Mortal Kombat (Terra, Exoterra, Tartakan, Edenia, Shokan,
entre outros) à mercê de seus poderes temporais. Como deusa do tempo, ela
consegue controlar as linhas dos acontecimentos e refazer eventos que, outrora,
atrapalharam seus planos de dominação e união de todos os reinos.
Durante a história, também conhecemos
os novos personagens do game, como a própria Kronica, além de Kollector, um dos
capangas de Shao Kahn; Cetrion, filha de Kronica e uma das deusas ancestrais, e
Geras, fiel escudeiro da deusa do tempo.
O mais interessante disso tudo é que
a trama se encaixa muito bem, mesmo com esse pout-pourri de
aparecimentos, desaparecimentos, misturas de épocas, mortes e renascimentos. As
pouco mais de cinco horas para a conclusão do modo história mostram que a
equipe do NetherRealm Studios conseguiu contar bem o enredo de Mortal Kombat 11, sem deixar as
coisas cansativas.
A boa construção dos capítulos também
colaborou para que o enredo se deserolasse bem, com alguns deles tendo dois
personagens jogáveis e alguns que, embora não estejam na seleção inicial do
jogo, podem muito bem aparecer em atualizações vindouras (esperamos).
A recompensa é, além de itens e
dinheiro para serem gastos na Kripta, que o jogador poderá aprender a jogar com
alguns dos principais lutadores do game. Portanto, mesmo se você não for
simpático à ideia de história em jogos de luta, vale a pena dar uma chance a
esse modo em MK11. E, claro, se
você for veterano de franquia, aqui é parada obrigatória.
Vale ressaltar, também, a inclusão
dos “finais” sempre que você vence uma Torre Klássica. É reconfortante, por
assim dizer, descobrir um pouco do que cada personagem tem a dizer,
independentemente do roteiro estabelecido no Modo História.
Vamos ao que interessa?
Após uma excelente entrada, nada
melhor do que o prato principal. E é aqui que Mortal Kombat
11 definitivamente brilha: as lutas. Depois de Mortal Kombat e Mortal Kombat X seguirem mais ou
menos a mesma linha de combate, MK11 vem
para aprimorar e deixar tudo no seu auge, fazendo com que este título seja o
definitivo em termos de mecânicas e técnicas de luta.
(Captura de
tela: Felipe Ribeiro)
A
franquia, desde MK3, de 1995, sempre foi conhecida por seus combos
pré-programados e aquela sensação de ser forjada para jogadores “apelões”,
afastando um pouco o pessoal que quer mais se divertir descompromissadamente.
Em Mortal
Kombat 11 isso foi sutilmente ajustado. Os combos permanecem, mas o
encaixe dos golpes está muito mais polido e necessita de maior precisão e
agilidade na execução dos comandos por parte do jogador.
Muito
embora isso exija uma curva de aprendizado maior, é uma manobra interessante
para atrair mais jogadores para o game. Os tutoriais, que são muito completos,
podem ajudar muito nesse sentido, inclusive para veteranos de MK.
(Captura de
tela: Felipe Ribeiro)
O X-Ray,
recurso que mais se parece com um “especial” e que fora incluído em Mortal
Kombat (2011), deu lugar aos Fatal Blows, que só podem ser utilizados
apenas uma vez na luta e em condições bem específicas no combate.
Apesar da
mudança, podemos garantir que eles estão ainda mais violentos e criativos.
Outro ponto bem interessante e que já
falamos ao jogar o beta é a divisão do medidor de
poder, localizado abaixo dos lutadores. Com a separação das barras de ataque e
defesa, a luta ficou ainda mais estratégica, pois impede que o jogador ou só se
defenda muito ou fique fazendo uso inadvertido dos poderes melhorados
(apertando RB no Xbox ou R1 no PS4). Essas barras, inclusive, carregam sozinhas
e não com o uso dos golpes, como acontecia em MK e MKX.
E por falar em defesa, agora, por
exemplo, não há mais os “combo breakers”, mas sim uma série de artimanhas para
evitar que seu oponente fique debulhando golpes e te atingindo no ar, o que
acontecia muito em lutas mais desequilibradas. Tudo isso, claro, com o custo da
barrinha de defesa – exceto quando o bloqueio perfeito é executado. Essas
mecânicas defensivas, por sinal, foram bem utilizadas em Injustice 2 e o NetherRealm
Studios aproveitou em MK11.
Kustomização e konsumíveis
Cada um dos 23 lutadores possui até
quatro estilos pré-definidos, mas que podem ser totalmente personalizados ao
longo da jogatina, seja com golpes especiais, corporais e, claro, itens
cosméticos para as fantasias e armas, que nunca foram tão variados – neste caso
também copiando Injustice 2, que já
apresentara essa característica. É possível, também, determinar a conduta do
lutador quando controlado pela IA — algo que explicaremos mais adiante.
Mas
algo que também ajudou a deixar o combate ainda mais completo e estratégico
foram os itens chamados de “konsumíveis” e as melhorias. Ao longo do modo
história e nas batalhas offline nas torres clássicas, você coleta itens que
podem ser utilizados durante os combates. Alguns bem inusitados e que lembram –
e muito – o que vimos a partir de The King of Fighters 99 e Marvel vs.
Capcom, como chamar a ajuda presencial de Cyrax (foto abaixo), ou os mísseis de Sektor e até mesmo a flatulência de Bo Rai Cho.
Cyrax dá uma forcinha sendo um dos 'konsumíveis'
(Captura de tela: Felipe Ribeiro)
Há também itens de recuperação de
sangue e os modificadores, que dão alguma vantagem em determinadas
circunstâncias.
É muito bom visitar a Kripta
Mais um ponto para o NetherRealm
Studios em Mortal Kombat 11 foi
a reestruturação da Kripta. Agora você assume o controle de um ninja e vai
caminhando pelos diferentes cenários dentro da Ilha de Shang Tsung em busca de
consumíveis, melhorias, fatalities, brutalities, colecionáveis e muitos outros
itens.
Como o
conteúdo é vasto, a Kripta funciona como um estímulo para que as torres e
desafios diários sejam jogados. Para não ficar chato como antigamente, o
estúdio, inteligentemente colocou mais interações com o cenário, o que deixa
tudo ainda mais divertido – se bem que gastar as moedinhas já dá uma sensação
muito boa.
Agora o martelo de Shao Kahn (e outros itens) te
acompanha para ajudar na Kripta (Captura de tela: Felipe Ribeiro)
O ponto negativo, no entanto, vai
para a maneira como foram incluídas as microtransações. Além das moedas do jogo
para adquirir itens, é possível comprar tudo com dinheiro de verdade. Mesmo com
Ed Boon dizendo que isso não seria um problema, muita gente vai reclamar. Mas,
convenhamos, se você jogar bastante, vai poder ter todos os itens.
Uma dica para isso é sempre visitar
as Torres do Tempo, que proporcionam recompensas polpudas.
Os melhores gráficos da franquia
Após decepcionar em MK X/XL, o NetherRealm Studios fez um
trabalho de tirar o chapéu em Mortal Kombat
11. Os lutadores nunca foram tão realistas, com movimentos
extremamente naturais e fluidos. Os cenários também estão bastante detalhados e
belos, incorporando os diferentes mundos que conhecemos em MK. Pareceu estranho, no entanto, o
trabalho com alguns personagens.
Kitana, por exemplo, aparece em MK11 com fisionomia oriental, algo
que nunca antes havia acontecido em Mortal Kombat.
Shao Kahn, por sua vez, está com aspecto mais “monstruoso” do que em outros
games, parecendo mesmo ser um ser de outro mundo. Não é nem melhor, nem pior,
mas são coisas que saltam aos olhos de quem sempre acompanhou a série.
Ainda sobre os personagens, é
impressionante o nível de detalhamento anatômico, com a reprodução do corpo
humano tendo fidelidade assustadora. As expressões observadas durante as
execuções saltam aos olhos e é algo que faltava em outras edições do game. As
apresentações e encerramentos das lutas também são outro destaque positivo.
Nas versões tradicionais do Xbox One
e PlayStation
4, o jogo roda em 1080p dinâmico, com essa variação aparecendo mais
no console da Microsoft.
Mas, quando vamos para as versões parrudas dos videogames, a vantagem fica mais
óbvia quando jogamos no Xbox One
X.
No PS4 Pro o game atinge os 1440p,
com o jogo rodando em 60fps e pouquíssimas quedas. Já no Xbox One X, além de
rodar sempre a 60fps mesmo nas cutscenes, a resolução alcança o 4K nativo em
alguns momentos, mas a média fica em torno dos 1800p. Ambos os consoles fazem
uso do HDR com maestria.
A trilha sonora, que sempre foi um
ponto forte da franquia, está melhor do que nunca, mesclando bastante o estilo
oriental com as músicas eletrônicas e pesadas de outros tempos do jogo. Este
ponto, aliás, sempre foi motivo de discussão entre os fãs mais ávidos de Mortal Kombat. Os mais puristas sempre
preferiram aquele estilo oriental/sombrio que vimos nos dois primeiros jogos da
trilogia original. A partir de MK3,
com uma “americanização” do jogo, outros estilos foram surgindo, assim como
novos fãs. Em MK11 isso não
será problema nem para os veteranos, nem para os novatos. A dublagem é outro
destaque sensível, com um texto muitíssimo bem adaptado ao nosso português.
Pra que isso?
A única ressalva para MK11 fica por conta de um modo
que, até agora, estamos tentando entender. Em “Lutador IA”, você monta um time
de três guerreiros para enfrentar outros times de jogadores ao redor do mundo.
A questão é que você não os controla. Pensamos, por um momento, ser uma ideia
do NetherRealm Studios para mostrar como as customizações e melhorias fazem
diferença para os personagens, mas isso poderia ser feito com o jogador
controlando, não é mesmo? A índole dos lutadores pode ser personalizada, inclusive.
De todo modo, algo me deixou
esperançoso: o fato de poder fazer algo como um tag team. Isso seria bem legal.
Fica a dica.
Ainda não vale a pena falar do online
Como testamos o jogo antes de seu
lançamento oficial, fica difícil tirar conclusões sobre os modos online. Com
mais tempo de jogo e mais pessoas portando o game, traremos nossa visão sobre
esse modo.
O melhor de todos
Mortal Kombat 11 é o jogo definitivo da
franquia, talvez o melhor desde Mortal Kombat
Trilogy. Sua mecânica de combate aprimorada, a enorme gama de
personalizações e os gráficos matadores fazem dele um game obrigatório para os
entusiastas do gênero luta. A história, por sua vez, acerta em cheio e
pavimenta o caminho para novos arcos no futuro – ou no passado, quem sabe.
Fonte: TecMundo
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