Com o Oscar se
aproximando (a cerimônia é neste domingo, dia 24), a polêmica entre cinema e
serviços de streaming volta à tona. Dessa vez, Steven Spielberg colocou um
pouco de lenha na fogueira durante um discurso na última edição da premiação do
Cinema Audio Society (CAS). “Espero que continuemos acreditando que a grande
contribuição que nós, diretores, podemos proporcionar ao público é a
experiência de um filme no cinema”, afirmou.
Mesmo sem mencionar uma
plataforma em específico, isso pode ser entendido como uma indireta para
produções, como “Roma”, do mexicano Alfonso Cuarón, exibido apenas em sessões
especiais de cinema e lançado na Netflix. O longa já venceu vários prêmios,
como o Globo de Ouro, e concorre a nada mais do que 10 estatuetas do Oscar,
incluindo as categorias de melhor filme e diretor.
Destaque: Cuarón durante as filmagens de "Roma". Fonte: IMDB.
Em 2018, Spielberg disse à ITV News que
filmes lançados em plataformas como a Netflix “poderiam concorrer ao Emmy, mas
não ao Oscar”. Apesar disso, no CAS 2019 fez elogios a esses formatos “Alguns
dos maiores roteiros que estão sendo feitos hoje são para a televisão, alguns
dos melhores diretores são para a televisão, alguns dos melhores desempenhos
estão na televisão.”
O posicionamento de Spielberg faz
todo o sentido, já que o respeitado diretor construiu sua carreira através de
campeões de bilheteria, hoje clássicos, como a franquia “Jurassic Park”. Seu
último filme, “Jogador n°1”, concorre à categoria de melhores efeitos visuais
no Oscar deste ano.
Fonte: IMDB.
Os serviços de streaming estão
“matando” o cinema independente?
Durante
as tradicionais entrevistas no backstage do Globo de Ouro de 2019, no qual
venceu o prêmio de melhor diretor, Cuarón foi questionado por um jornalista se
as plataformas de streaming estariam “matando o cinema independente”.
Sua
resposta foi dada a partir de outra questão: “Minha
pergunta para você é: em
quantos cinemas você acha que lançariam um filme mexicano em preto e branco, em
espanhol e em mixteco [língua nativa do México], que [também] é um drama sem
estrelas? Quão grande você acha que seria seu lançamento no cinema
convencional?”.
Fonte:
Netflix via IMDB.
O
diretor, claro, não é contrário às exibições nas telonas. “A experiência
completa de ‘Roma’ é inquestionavelmente em um cinema. No entanto, acho que a
experiência de assistir ao filme em casa terá o mesmo impacto emocional”,
afirmou depois em entrevista à Variety.
Antes
de “Roma”, a Netflix também distribuiu “Okja”, de Bong Joo-ho, e “Os
Meyerowitz: família não se escolhe”, de Noah Baumbach. Os dois não causaram o
mesmo impacto que o longa mexicano, mas despertaram discussões acaloradas no
Festival de Cannes de 2017: afinal, deveriam disputar pelos prêmios como os
demais? Se dependesse de Spielberg, a resposta seria óbvia.
O
mesmo foi concluído pela direção da premiação, que criou uma nova regra: em
2018 só poderiam concorrer filmes exibidos nos cinemas em datas anteriores ao
festival. Isso foi decisivo para a Netflix não levar “Roma” à competição.
Pirataria em tempos de premiação
Nem todo mundo tem condições de
pagar pelos valores dos ingressos de cinema. Além disso, cidades pequenas nem
sempre tem esse tipo de espaço. Salas do interior, pelo menos do Brasil, deixam
ainda de exibir muitos filmes, em especial estrangeiros, autorais e independentes.
O caminho mais óbvio para pessoas
nessas situações, com destaque para os períodos de premiações, é recorrer à
pirataria. Basta acessar qualquer rede social ou fórum da internet dedicado a
filmes ou séries, que logo se percebe a grande busca por links com arquivos não
oficiais.
Vale lembrar
que serviços de streaming ajudaram a reduzir o número de downloads ilegais no
Brasil em 2018. No caso, usuários apontaram a facilidade de consumir seu
conteúdo em qualquer momento e lugar. O relativo baixo preço pago, por um
catálogo variado, também é algo a ser considerado.
Há poucas chances de as salas de
cinema deixarem de existir, já que proporcionam, sim, uma experiência
diferenciada. Contudo, as pessoas ainda vão continuar assistindo filmes,
blockbusters ou não, em outros tipos de telas – e nem sempre o tamanho do dispositivo
ou extrema qualidade de áudio será o mais importante.
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