O ano de
2018 foi, para o Brasil, um dos períodos eleitorais mais efervescentes dos
últimos tempos, principalmente por conta do uso extremo das redes
sociais como ferramenta de propaganda política, com o
protagonismo absoluto do Whatsapp. Outra eleição também foi marcada pelo uso do
aplicativo – e, ao contrário do que se possa pensar, não foi uma coisa
ruim.
Em período
eleitoral, o uso do Whatsapp está ligado inexoravelmente à expressão fake news,
e essa é uma grande preocupação na África, onde o aplicativo é
extremamente popular em 40 países por conta do baixo custo e da facilidade de
compartilhar mensagens.
O WhatsApp
é extremamente popular em 40 países da África por conta do baixo custo e da
facilidade de compartilhar mensagens
O poder
que o Whatsapp pode ter para influenciar e comprometer o resultado de eleições
foi objeto de estudo de uma equipe formada por pesquisadores do Centro de
Democracia e Desenvolvimento (Nigéria) e da Universidade de Birmingham (Reino
Unido). Eles passaram os últimos meses mensurando o impacto do aplicativo
nas eleições de maio de 2019 na Nigéria. As conclusões são, em igual medida,
perturbadoras e encorajadoras.
Segundo a
pesquisa, o Whatsapp foi, sim, usado para enganar eleitores de maneiras cada
vez mais sofisticadas – mas, em igual medida, também fortaleceu a democracia em
outras áreas.
Muitas
mensagens tinham como objetivo atacar o rival; houve exemplos bizarros,
como a mensagem que dizia que o presidente havia morrido enquanto se tratava
fora do país e fora substituído por um clone do Sudão. Outras notícias
fabricadas eram menos estranhas, mas não menos significativas.
Uso o
WhatsApp mais do que uso o banheiro
A
influência política do WhatsApp expandiu-se rapidamente junto com a adesão das
pessooas ao aplicativo. Hoje, é um mecanismo-chave através do qual líderes
políticos buscam se comunicar com suas equipes de campanha e apoiadores; 91%
das pessoas que entrevistamos eram usuárias ativas do WhatsApp. Como uma delas
disse: “Uso o WhatsApp mais do que uso o banheiro.”
Os
pretendentes à eleição começaram a enviar mensagens políticas já em
2015. Em 2019, os dois principais candidatos – o presidente Muhammadu
Buhari e o líder da oposição, Atiku Abubakar – tinham equipes dedicadas a
publicar em redes sociais: o Buhari New Media Center e a Força Jovem Atikulada.
Apoiadores do presidente Muhammadu Buhari, em
uma manifestação no início deste ano. Fonte: EPA-EFE / Stringer)
O WhatsApp
mudou essa situação. A oposição agora tem uma maneira barata e rápida de
reagir, além de usar o aplicativo para coordenar campanhas de combate à
corrupção e de observação de eleições, fortalecendo a democracia.
Os
eleitores esperam ver seus líderes no local, oferecendo serviços à comunidade
Embora
usassem o WhatsApp durante suas campanhas, os candidatos, no fim das contas,
não dependiam dele. Os eleitores esperam ver seus líderes no local, oferecendo
serviços à comunidade. O aplicativo pode ajudar um líder, ampliando
e complementando sua campanha, mas somente se ele cumprir o que prometeu. O
aplicativo não pode substituí-lo.
Essas
descobertas sugerem que a solução para o poder das plataformas de
mídia social, como o WhatsApp, não são proibi-las ou permitir que os governos
as censurem. Uma solução melhor seria desenvolver códigos de conduta de mídia
social em época de eleições e promover a alfabetização digital, ensinando
a ajustar o WhatsApp para controlar a quais grupos se quer ser adicionado e quais
informações se deseja receber.
Fonte: The Conversation
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