Para o bem ou para o mal, a ciência pode estar se aproximando de criar robôs autoconscientes, de acordo com um artigo publicado na Science Robotics. Isso significa que as máquinas podem estar próximas de pensarem, agirem e aprenderem como humanos fazem, adaptando-se às mais diversas situações ao longo de suas vidas.
Até então, os seres artificiais só
conseguiam executar essas ações usando simuladores e padrões fornecidos por
humanos. Contudo, os pesquisadores da Columbia Engineering fizeram um grande
avanço no ramo da robótica: criaram um robô que literalmente “se vira” sozinho.
O ser artificial não possui
conhecimento prévio de física, geometria ou dinâmica de motor, tampouco sabe o
que ele próprio é, pois não consegue reconhecer sua forma. Então, após algumas
informações e um dia de computação intensiva, o robô criou padrões próprios se
projetou em uma situação futura para avaliar as condições e possibilidades.
O "autosimulador" é feito
internamente e, com ele, o robô consegue se observar e se adaptar a diferentes
situações, além de lidar com novas tarefas e detectar e reparar danos em seu
próprio corpo. Até então, os robôs só conseguiam se operar graças a um modelo
humano.
Mas para se tornarem independentes e
conseguirem lidar com imprevistos (criados por seus criadores, inclusive), as
próprias máquinas precisam aprender a se simular diante dessas situações,
certo? Foi o que questionou Hod Lipson, professor de engenharia mecânica e
diretor do laboratório onde a pesquisa foi conduzida.
O estudo fez uso de um braço robótico
articulado, que inicialmente se movia aleatoriamente e apenas acumulava
trajetórias, sem grandes avanços. Apesar de bastante impreciso, o robô sequer
sabia o que era ou como suas juntas estavam conectadas.
(Imagem: Robert Kwiatkowski/Columbia Engineering)
Para criar
a "autosimulação", o robô fez uso de aprendizagem profunda. Em menos
de 35 horas de treinamento, o ser artificial tornou-se consistente e conseguiu
simular internamente tarefas de “pegar e mover” repetidamente. Tudo isso usando
um sistema de malha fechada.
A malha
fechada, vale ressaltar, é um sistema para motores com injeção eletrônica, onde
os sensores enviam informações ao motor, definindo o tempo de injeção base, mas
sempre contando com um sensor de oxigênio para recalibrar a quantidade e,
assim, melhorar e economizar a queima de combustão. A malha aberta funciona de
forma parecida, mas sem um sensor de oxigênio.
O sistema
de malha fechada foi usado para que, ao final de cada trajetória onde o braço
agarrava um objeto e o movia para dentro de um recipiente, o robô pudesse ele
mesmo se reajustar para reiniciar o mesmo movimento. Após algum tempo, ele
conseguiu depositar todos os itens dentro de um copo, usando seu próprio padrão
de repetição de movimentos, com 100% de sucesso.
Quando o
estudo usou de um sistema de malha aberta para a tarefa, mesmo com padrões e
autosimulações criadas pelo próprio robô internamente, sem nenhum feedback
externo, a mesma tarefa de agarrar e depositar objetos obteve uma taxa de
sucesso de 44%. Além disso, outra tarefa também foi atribuída ao robô: escrever
um texto usando um marcador.
Para esta
etapa, os pesquisadores também atribuíram uma dose extra de improviso, a fim de
avaliar se o braço mecânico poderia detectar mudanças ou danos em si mesmo.
Para isso, imprimiram uma peça em uma impressora 3D e a encaixaram no robô. O
braço mecânico foi foi capaz de detectar a alteração em sua própria extensão e
reajustou seus padrões e suas autosimulações.
A partir
de então, mesmo com um corpo “deformado”, o braço conseguiu reconfigurar a si
mesmo e executou sua tarefa com pouca perda de desempenho. Lipson observou que
a auto-imagem pode ser a chave para permitir que os robôs expandam seus
conhecimentos para além da chamada IA Aplicada, executando movimentos e ações
mais generalizadas.
(Imagem: Robert Kwiatkowski/Columbia Engineering)
“Isso é,
talvez o que uma criança recém-nascida faz em seu berço, à medida que aprende o
que é”, disse Lipton. “Acreditamos que essa vantagem também pode ter sido a
origem evolutiva da autoconsciência nos seres humanos”.
Lipton
também acrescentou: “Embora a capacidade do nosso robô de se projetar ainda
seja modesta se comparada com os humanos, acreditamos que essa técnica levará
ao caminho da autoconsciência”.
Para o
pesquisador, a robótica e a inteligência artificial podem oferecer uma nova
janela para a evolução da consciência em máquinas. “Filósofos, psicólogos e
cientistas cognitivos vêm questionando a autoconsciência há milênios, mas
têm-se feito relativamente poucos progressos”. Lipton também diz que “ainda
escondemos nossa falta de compreensão com termos subjetivos como ‘tecido da
realidade’, mas os robôs agora nos obrigam a traduzir essas concepções vagas em
algoritmos e mecanismos concretos”.
Por outro lado, Lipton e sua equipe têm
consciência das implicações éticas que seu estudo pode causar.
“A
autoconsciência levará a sistemas mais resilientes e adaptativos, mas também
pode significar certa perda de controle. É uma tecnologia poderosa, mas deve
ser manuseada com cuidado”, alerta o especialista.
O próximo
passo do estudo é entender se os robôs conseguem criar padrões não apenas para
seus corpos, mas também para suas “mentes”, e assim pensarem como humanos são
capazes de fazer.
Fonte: Eureka Alert
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