Mesmo com tecnologia de ponta para processamento de dados e capturas inéditas de imagens do Universo, quando se trata de algo fora da Terra, não se sabe o quanto desconhecemos. Um estudo recente identificou 139 "planetas menores" — e eles são praticamente, em termos astronômicos, nossos vizinhos.
A descoberta foi anunciada por um time de pesquisadores no periódico The Astrophysical Journal. Os cientistas, dedicados ao estudo da chamada matéria escura, que, por enquanto, sabe-se que pode ser percebida pela ação da gravidade que exerce, chegaram a um catálogo de 245 descobertas por meio do levantamento óptico/infravermelho Dark Energy Survey (DES), sendo 139 delas inéditas.
Trata-se da primeira visualização de objetos transnetunianos (TNOs, na sigla em inglês), localizados nos extremos do Sistema Solar e aos quais Plutão se juntou quando deixou de ser considerado planeta.
(Fonte: Pixabay)
O estudo
O DES é um projeto colaborativo internacional que surgiu em 2013 para "mapear" o céu. Utilizando uma câmera digital de 520 MP instalada em um telescópio de 4 metros no Observatório Interamericano de Cerro Tololo, no Chile, trata-se de uma jornada para entender a natureza da matéria escura e a expansão do Universo.
Inicialmente projetado para estudar galáxias e supernovas, a quantidade de informação obtida permitiu expandir as pesquisas para outros campos, como a detecção dos objetos transnetunianos. Esses corpos são grandes o suficiente para que sua gravidade os molde em formato esférico, mas são muito semelhantes a outros objetos próximos às suas órbitas, o que não os classifica nem como planetas nem como asteroides. Todos estão além de Netuno.
A tarefa, entretanto, não é simples. "O número de TNOs que se pode descobrir depende do espaço do céu observado e qual é a mancha mais fraca que se pode encontrar nas imagens", afirmou Gary Bernstein, professor da Universidade da Pensilvânia e integrante da equipe. A análise levou em conta mais de 3 bilhões de pontos.
Pedro Bernardinelli, formado em Física pela Universidade de São Paulo (USP), aluno de doutorado da Universidade da Pensilvânia (EUA) e um dos líderes do estudo, complementou: "Pesquisas dedicadas à descoberta de objetos transnetunianos possuem seu método para identificar movimentos de um objeto, o que torna fácil o rastreamento. Uma das conquistas de nossos esforços foi descobrir uma maneira de refazer esses movimentos".
Considerando que forças gravitacionais "estranhas", das quais se desconhece a origem, intrigam cientistas, essa pode ser mais uma evidência de que existe, sim, a matéria escura — ainda que não a vejamos de maneira direta.
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