sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Eles sabem tudo o que você faz — e é seu celular quem conta

Uma reportagem do New York Times revelou informações assustadoras sobre o incrível comércio de dados de localização que ocorre a todo momento. Empresas coletam rastros de posicionamento de pessoas, criando um banco de dados que pode, facilmente, descrever todas as atividades desses indivíduos em determinado período.

50 bilhões de pings de localização

O projeto Times Privacy teve acesso a um arquivo com mais de 50 bilhões de pings de localização provenientes de smartphones de mais de 12 milhões de cidadãos americanos enquanto eles se deslocavam entre importantes cidades dos Estados Unidos.

Segundo o jornal, fontes anônimas entregaram as informações porque queriam que o público soubesse como e o quanto está sendo vigiado. Cada ping representa a localização precisa de um único smartphone durante vários meses entre 2016 e 2017.
Qualquer pessoa pode ser monitorada e ter seus dados vendidos sem qualquer regulamentação. (Fonte: Pixabay)

As empresas conhecem cada passo dos cidadãos

O NYT disse que os dados não pertencem a uma empresa de telecomunicações ou gigante de tecnologia, muito menos a órgãos ligados ao governo. Eles são coletados por empresas especializadas nesse tipo de atividade. Um conjunto de pings pode registrar vários trajetos de um mesmo indivíduo, informando todos os lugares que ele visitou, entre lojas, empresas, estabelecimentos, residências, com data, hora e tempo de permanência nas visitas.
Cada bolinha verde é um ping de localização de um usuário de smartphone em Nova York. (fonte: The New York Times)

Você pode ser facilmente identificado

As empresas envolvidas nesse tipo de atividade dizem que são os próprios usuários de smartphones que concordam em compartilhar os dados de localização. No entanto, os avisos dos aplicativos não informam como esses dados serão utilizados. Os clientes se apoiam na afirmação de que os dados são mantidos em segurança e que não identificam os usuários, pois não são acompanhados de outras informações, como nomes ou números de telefone.

No entanto, o NYT cruzou os pings fornecidos pelo arquivo e identificou várias pessoas, lugares que elas visitaram, o dia, a hora e quanto tempo ficaram nesses locais. O professor de Direito e pesquisador de privacidade do Centro de Direito da Universidade de Georgetown, Paul Ohm, disse que somente o DNA é mais difícil de anonimizar do que essas informações de geolocalização tão precisas.

Com informações facilmente conseguidas na internet, como endereços residenciais, o jornal identificou dezenas de pessoas e suas atividades, como a cantora Mary Millben, que se apresentou em um evento na manhã após a posse do presidente dos EUA, Donald Trump. Um ex-funcionário da Microsoft também foi "flagrado" indo até um escritório da Amazon semanas antes de se tornar gerente do Amazon Prime Air.

É possível saber praticamente tudo a seu respeito

A partir dos dados de localização, é possível saber praticamente tudo a seu respeito. Você pode sair de uma concessionária e ver um anúncio de um carro em seu celular horas depois. É possível identificar se você participou de um protesto e de que lado você estava; se você tem um problema psicológico e com quem se trata; assim como se o seu casamento vai bem, se você trai e com quem o faz.

Dados movimentam milhões de dólares

Segundo o NYT, esses dados de localização são vendidos para empresas que direcionam anúncios. Mas esse não seria o problema maior nesse tipo de atividade, ainda mais se consideramos que os usuários não estão sendo avisados a respeito desse comércio.

Um ex-funcionário de uma empresa de dados de localização disse ao jornal que nem todos os clientes são empresas de publicidade e que, às vezes, eles estão dispostos a pagar mais de US$ 1 milhão por cada bloco de dados.

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