Desde que a pandemia chegou por aqui e começamos a fazer distanciamento social, a passar a maior parte do tempo em casa e a trabalhar em regime de Home Office, você notou alguma diferença nos seus sonhos? Nos referimos a eles se tornarem mais vívidos e, muitas vezes, bizarros, dos quais chegamos inclusive a despertar cansados! Pois, se você observou isso, saiba que não é o único – tanto que o fenômeno se converteu no tema de um estudo que vem sendo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Esquisitices da mente
De acordo com Evanildo da Silveira, da BBC, a pesquisa surgiu depois de as aulas nas universidades serem suspensas e o professor de uma delas decidir dar continuidade às atividades de forma remota. Então, em um dos encontros virtuais, foi proposta a ideia de o grupo de alunos investigar sobre o que as pessoas estavam sonhando durante o isolamento – e a turma notar um aumento significativo no período da pandemia na quantidade de relatos sobre sonhos estranhos nas redes sociais, assim como em buscas relacionadas aos seus significados.
O projeto acabou ganhando mais colaboradores e, juntas, as equipes das 3 universidades começaram a coletar testemunhos e a catalogar os sonhos mais relatados pelos brasileiros. Os pesquisadores também divulgaram a iniciativa nas redes sociais e criaram canais através dos quais os interessados podem entrar em contato com o time e compartilhar as suas experiências.
Muita gente anda tendo sonhos muito estranhos...
Fonte: Vox / Getty Images / Tetra images RF / Reprodução
Segundo apontou o levantamento até agora, os temas mais recorrentes dos sonhos são fugas e perseguições, intrusões, a perda – no sentido amplo da palavra, como perda de objetos, de memória ou se perder em algum local – e sentimentos de vulnerabilidade. Também são bastante frequentes o medo, a morte e o asco, assim como sonhar com o lugar onde se nasceu ou se passou a infância, e muitos participantes afirmaram que, além de terem a impressão de estarem sonhando mais, têm se lembrado mais dos seus sonhos e mais vividamente.
O estudo ainda está em sua etapa inicial, isto é, a de coleta de informações, mas já soma mais de 500 participações. Depois, com os dados em mãos, os pesquisadores pretendem descobrir como os brasileiros estão lidando com o distanciamento social, como a pandemia vem afetando as pessoas psicologicamente e quais são os impactos provocados por essas novas situações.
No entanto, de momento, os pesquisadores explicaram que uma análise preliminar sugere que as pessoas estão desenvolvendo uma nova forma de se relacionar com seus sonhos e é como se eles se prolongassem para além do habitual e permanecessem conosco por mais tempo – até que a gente se desperte completamente e siga com nossos cotidianos.
Na prática
O objetivo do estudo é o de mapear os sonhos dos brasileiros e traçar estratégias para ajudar as pessoas a lidarem melhor com as ansiedades decorrentes da pandemia. Mas, mesmo quem não tem interesse em participar formalmente da pesquisa – exteriorizar seus devaneios noturnos a estranhos – pode adotar algumas técnicas sugeridas pelos especialistas, como a de manter um caderninho para registrar os sonhos.
Processando mudanças e angústias
Fonte: CNN / Reprodução
O ideal é anotar o conteúdo assim que acordar – e esse exercício pode nos ajudar a encontrar sentido no que estamos sonhando e entender melhor como as nossas mentes estão processando as nossas experiências e preocupações durante a pandemia. Além disso, ao descrever os sonhos, muitas vezes nos damos conta de detalhes ou identificamos associações que podem ter passado despercebidas em um primeiro momento, e essa atividade pode proporcionar certo alívio.
E é importante lembrar que essas manifestações não consistem, necessariamente, em sinais de problemas. Estamos atravessando um período extremamente desafiador e no qual estamos sendo obrigados a assimilar muitas mudanças e novidades em um curtíssimo espaço de tempo. Portanto, é de se esperar que a nossa mente reaja de alguma forma.
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