Os números relacionados ao coronavírus no Brasil não param de crescer. Até este domingo (17), foram registradas 15.776 mortes provocadas pela covid-19, além de confirmados 236.131 casos da doença em todo o país. Entre os infectados, estão aqueles que lutam na linha de frente contra a condição: médicos e enfermeiros.
O Ministério da Saúde divulgou na última quinta-feira (14) que o Brasil tem 31.790 trabalhadores da área contaminados – e as suspeitas são de que quase 200 mil deles estejam com a doença. Entretanto, esse não é o único perigo, já que a síndrome de Burnout é uma realidade entre eles.
Em artigo publicado no periódico Anesthesia & Analgesia, o Dr. Farzan Sasangohar, professor assistente do Hospital Metodista de Houston, afirma que médicos e enfermeiros norte-americanos estão enfrentando Burnout ocupacional e fadiga devido ao estresse causado pela pandemia. E não é para menos: turnos mais longos, perdas constantes de vidas, falta de equipamentos de proteção individual e treinamento inadequado para uso dessa aparelhagem os tornam vulneráveis a todo tipo de questionamento e, claro, medo.
Além da insegurança quanto à exposição à doença e do receio de contaminação de familiares, muitos deles tiveram de interromper procedimentos eletivos e foram demitidos ou tiveram suas horas reduzidas.
Insegurança é a principal causa do esgotamento mental de profissionais da saúde.
Condições insustentáveis
Voltando ao Brasil, uma reportagem publicada no G1 mostra que enfermeiros e técnicos de enfermagem que trabalham no Hospital de Campanha do Maracanã, Zona Norte do Rio de Janeiro, foram colocados para dormir em colchões no chão – sendo algo considerado desumano pelos profissionais.
Podem ser avistados, de acordo com a reportagem, mofo e falta de luz no local. Além disso, não há colchões para todos. “Enquanto você tem médico dormindo no alojamento com cama, televisão e ar condicionado, as imagens mostram o que fizeram com a equipe de enfermagem. Dormindo no chão, ao relento, em um local insalubre e jogado às traças”, denuncia um dos entrevistados. “Eu só quero falar que depois vai ter o afastamento de um monte de profissionais por pneumonia, por covid. Aí vão falar que a gente não se paramentou corretamente, mas o colchão está no chão”, complementa outro.
A Secretaria de Estado de Saúde afirmou que a situação é “inadmissível” e afirmou que vai notificar a organização social responsável pela unidade, que explicou: “Houve um erro de preparação para atender esse tipo de demanda que não se repetirá. A preocupação maior naquele momento foi com o treinamento dos colaboradores. É importante frisar que as imagens não se referem a algo recorrente, foi um problema pontual já contornado”.
Mesmo que haja alguma resolução, o panorama já traz uma ideia de como as condições psicológicas destes profissionais são afetadas – e de que, nesses casos, nada é tão simples. “A pandemia da covid-19 amplificou um problema já existente em nossos sistemas de saúde e está expondo as implicações nocivas do esgotamento de profissionais”, afirma Sasangohar.
Falta de equipamentos preocupa aqueles que atuam na linha de frente.
Um eterno aprendizado
Existe certa dificuldade de caracterizar o chamado Burnout. Entretanto, o consenso é de que se trata do resultado de um processo prolongado de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse, ocasionando esgotamento emocional e escassa realização pessoal.
Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome. Devido a isso, são comuns ausências no trabalho, agressividade, isolamento e mudanças bruscas de humor, além de irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo e baixa autoestima.
De acordo com a Dra. Bita Kash, “minimizar riscos ocupacionais é a ação mais importante para assegurar que profissionais da saúde estejam totalmente preparados e seguros para enfrentar o coronavírus. Para isso, é preciso atender as solicitações de equipamentos e minimizar incertezas por meio de informações claras e alinhadas.
Mesmo pequenas adaptações podem fazer a diferença.
Por isso, os pesquisadores adotaram uma série de medidas no hospital em que atuam (Hospital Metodista de Houston) e as elencaram no estudo, já que respostas positivas foram identificadas com as mudanças. Tais recomendações podem auxiliar na preparação para futuras pandemias. Veja quais são:
- Desenvolver guias direcionados às indústrias responsáveis pela produção de equipamentos para que adotem transições ágeis para o fornecimento de insumos;
- Estabelecer planos nacionais e regionais de minimização de desastres para auxiliar a reduzir o tempo de fornecimento de equipamentos e testes;
- Distribuir número adequado de testes e EPIs;
- Treinar profissionais da saúde para gerenciamento de desastres;
- Reduzir restrições de atuação de indivíduos licenciados em outras jurisdições;
- Criar uma força-tarefa que inclua esses indivíduos;
- Utilizar dispositivos inteligentes para monitorar a saúde dos profissionais, tanto mental quanto física.
“Através das respostas à covid-19, podemos aprender muita coisa. Em nossa abordagem, utilizamos sistemas multidisciplinares que proporcionam conhecimento não sobre falhas ou atalhos, mas também sobre adaptações bem-sucedidas e intervenções improvisadas nos níveis individuais e coletivos que reforçam nossa resiliência”, finaliza Sasangohar.
Fontes: ScienceDaily/Exame/G1/Drauzio/Portal Educação
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