domingo, 5 de julho de 2020

Astrônomos descobrem asteroide com mineral comum no manto terrestre


No início deste ano, astrônomos descobriram que um asteroide um tanto quanto exótico estava perambulando ao redor de Vênus, tendo sido o primeiro do tipo em uma série de outros já procurados. Não muito maior que uma montanha pequena, o mais intrigante é a sua composição: parece que o 2020 AV2, como foi batizado, é rico em olivina, um composto de minerais formado por silicatos de magnésio e ferro e encontrado de forma abundante nas profundezas da Terra. Acredita-se que tanto ele quanto seus "irmãos escondidos" se formaram no início do Sistema Solar.

De acordo com estudos anteriores, mais de 1 milhão de asteroides vagam em um cinturão além de Marte e são guiados pela gravidade de Júpiter. Apenas 23 deles foram detectados perto de nosso planeta, tendo sido desviados de suas órbitas por perturbações de outros corpos, mas cientistas suspeitam há tempos da existência de um grupo maior naquela região. É muito difícil de visualizá-los, uma vez que aparecem no horizonte somente ao amanhecer e ao anoitecer, contra o brilho do Sol.

Um cinturão de asteroides existe além da órbita de Marte.

Ninguém contava com a sorte de pesquisadores que, em 4 de janeiro, com um pequeno telescópio de pesquisa do Observatório Palomar, na Califórnia, finalmente deram de cara com um exemplar. Estamos falando do 2020 AV2, com apenas 1,5 quilômetro de largura e órbita de 151 dias ao redor do Astro Rei.

Francesca DeMeo, caçadora de asteroides do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que faz parte da equipe, comemorou: "Conseguir visualizar um exemplar dessa nova população e ele ser composto por olivina foi algo realmente improvável de acontecer. Isso torna o resultado da pesquisa ainda mais legal".

Jogos vorazes astronômicos

Para saber do que o 2020 AV2 é formado, Marcel Popescu, pesquisador do Astronomical Institute of the Romanian Academy, e seus colegas utilizaram telescópios nas Ilhas Canárias para entender como a luz é refletida no corpo celeste e se depararam com linhas de absorção que deram pistas de sua composição química. Ao periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical, ele declarou: "Não podemos dizer com certeza que olivina seja o mineral dominante, mas certamente é abundante em sua superfície".

Em um estudo separado, os irmãos Carlos e Raul de la Fuente Marcos, cientistas da Universidad Complutense de Madrid, analisaram a trajetória do asteroide e revelaram que ele veio, justamente, do cinturão citado, tendo sido arremessado para nós por Júpiter e seus vizinhos mais próximos depois de milhões de anos de toma lá, dá cá. A novidade pode resolver um velho mistério científico.

Acredita-se que a mesma separação entre núcleo, manto e crosta encontrada em planetas ocorreu com pequenos viajantes há 4,56 bilhões de anos, ou seja, o calor radioativo da decomposição do alumínio-26 fez com que rochas ricas em ferro e níquel afundassem no núcleo deles também, enquanto aquelas com altas taxas de olivina se transformaram em manto e outros minerais mais leves deram origem à crosta.

Nos jogos vorazes astronômicos, com diversas colisões, sobraram apenas pedaços desses exemplares, sem crosta — os asteroides em questão —, que podem confirmar se isso ocorreu de fato.

Será que tem mais?

Não pense que esses espécimes de olivina são tão comuns. DeMeo encontrou 21 deles entre 36 no cinturão, o que não é suficiente para que caracterizem todo o manto perdido: "Quando tais objetos são fragmentados, espera-se que haja muito manto por aí, o que não é o caso".

Essa falta pode ser culpa da incapacidade da tecnologia humana para visualizar corpos menores, uma vez que eles são facilmente pulverizados nos embates com os "primos" mais fortes. O ceticismo da comunidade científica, nesse caso, impera. Mesmo entre os menores, poucos foram avistados, o que pode colocar em xeque a teoria de uma população mais vasta.

Francesca DeMeo, caçadora de asteroides do MIT.

Ainda assim, caso Popescu descubra outro mineral na composição do 2020 AV2, a piroxina, tudo pode mudar, uma vez que ela é abundante em asteroides-manto: "É um objeto muito interessante, peculiar. O primeiro de seu tipo. Quero ver se haverá outros".

Fonte:Science

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