segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

J.R.A.FOTO-CRÍTICA: O FAROL


Por João Ramiro Antunes

Filme de terror psicológico dirigido e co-escrito por Robert Eggers ao lado de Max Eggers, que havia feito sua estréia no Festival de Cannes em maio de 2019, e seu real lançamento apenas em 18 de outubro do mesmo ano, conquistando uma aclamação crítica por onde passou, mas que somente esse ano, janeiro de 2020, deu sua graça nos cinemas nacionais, mantendo a mesma recepção calorosa triunfante. Agora, o que um filme de terror de baixo orçamento em preto e branco, rodado numa tela quadrada, no formato 4x3, tem de tão especial pra receber tanto elogio? 
No início do século XX, Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada, contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir seu ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias. No entanto, o acesso ao farol é mantido fechado ao novato, que se torna cada vez mais curioso com esse espaço privado. 
Enquanto os dois homens se conhecem e se provocam, Ephraim fica obcecado em descobrir o que acontece naquele espaço fechado, ao mesmo tempo em que fenômenos estranhos começam a acontecer ao seu redor. Bom, pra começarmos a entender porque essa obra tá chamando tanta atenção, vamos iniciar pelos aspectos técnicos. 
 
 
A cenografia é muito bem realizada, alojamento e ambientes em geral são excelentes, assim como tudo que se refere ao farol, que fora reconstituído nos moldes da época, com uma riqueza de detalhes em seu interior incrível, expondo um trabalho muito fidedigno, assim como nos figurinos e objetos de cena em si, tudo feito com muito cuidado por seus idealizadores.
A fotografia em preto e branco tem seu charme vitoriano, além da escolha do formato de tela quadrado que realça a sensação claustrofóbica que o longa quer passar, mas definitivamente o que chama mais atenção, são os sons. O mar, chuva, gaivotas, moinhos e engrenagens, o barulho da sirene que mais parece o rosnar de alguma criatura, em conjunto de uma trilha sonora assustadoramente inquietante, nos proporciona uma imersão absurda.
Outro aspecto que está acima da média, são as atuações de seus protagonistas, Willem Dafoe e Robert Pattinson dão um show de interpretação. A química é perfeita, e ambos entregam performances extremamente viscerais, exponencialmente crescente. 
Os diálogos são bons e bem escritos, alguns proferidos pelo personagem do Dafoe chega a impressionar de tão intensivos, entregando-se de corpo e alma ao projeto. Pattinson não fica pra trás, deixando mais que claro, o quão bom esse ator é, para os mais exigentes, de uma vez por todas. 
A direção de Robert Eggers (que só possuía em seu currículo A Bruxa de 2015) é indiscutível. Ele conduz muito bem a atmosfera de suspense e o mistério da trama, nos guiando e nos deixando cada vez mais curiosos e intrigados com o que há por trás desse "maligno farol", recheado de cenas bizarras e provocantes que brinca com nosso senso de realidade, nos colocando em constante conflito.
Esmiuçando profundamente a mente dos nossos faroleiros, tornando suas percepções cada vez mais insana, que encerra com um final, um tanto confuso e menos complexo do que parece. Resultado de uma história que mistura temas como: isolamento, paranoia, solidão, abstinência alcoólica e sexual, medo, humilhação, orgulho, abuso de poder e até mitologia. 
Aí chegamos ao ponto do porquê não ter gostado mais do filme, que em meu ver,  estão nas escolhas criativas para com o roteiro que atrapalharam em minha avaliação final. Muito disso, deve-se ao fato dos matérias promocionais nos vender: "O mistério do farol" e mudar de direção narrativa na metade da projeção, e apostar na " Loucura sensorial", uma vez que estava engajadíssimo na revelação do que havia no fatídico farol, e isso acabou frustrando um pouco a experiência, e não funcionando tão bem pra mim, quanto deveria.  
O Farol é um filme de terror psicótico nada convencional pro gênero, com enredo provocativo e perturbador, tem interpretações viscerais e insanas, definitivamente não é pra todo mundo, mas é tão bizarro quanto original, repleto de simbologia com o ato final que vai te deixar confuso, num primeiro olhar parecer louco, e que vai ficar na sua cabeça por um bom tempo.
NOTA: 8/10

Assista o Trailer:

Ficha Técnica Completa
TítuloThe Lighthouse (Original)
Ano produção2019
Dirigido por
Estreia
2 de Janeiro de 2020 ( Brasil )
Outras datas 
Duração110 minutos
Classificação 16 - Não recomendado para menores de 16 anos
Gênero
Países de Origem

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