Desde que órgãos de saúde e governamentais começaram a orientar que a população mundial aderisse ao distanciamento físico para conter a pandemia do novo coronavírus, não faltaram dicas na internet para auxiliar no processo de adaptação à nova realidade. Como tem quem duvide da eficácia dessas ações, cientistas com experiência em isolamento resolveram dar uma mão e compartilhar suas estratégias — são profissionais que chegaram a passar meses sozinhos no espaço ou em estações remotas de pesquisa.
Considerando que ainda não temos certeza de quanto tempo as medidas preventivas devem durar, é extremamente importante focar em construir dias felizes e positivos, mesmo que, de vez em quando, o sentimento de tristeza bata.
Então, que tal dar uma chance a novos hábitos e escutar quem entende do assunto? Confira 10 dicas de cientistas com experiência em isolamento.
Fonte: Pixabay
1. Mantenha uma rotina
Depois de passar 1 ano na Base de Pesquisas Concordia conduzindo estudos sobre os efeitos do isolamento, a física austríaca Carmen Possnig e 12 colegas experienciaram a síndrome do inverno, com sintomas que incluíam irritabilidade, insônia e variações extremas de humor. A base de pesquisas fica na Antártica, e a temperatura dos 9 meses da estação mais fria do ano por lá chegam a 73 °C negativos — com ausência de sol e somente gelo até onde a vista pode alcançar.
Para se manter sã e produtiva, ela dividiu as tarefas do dia a dia em escalas de 30 minutos. "Se você define que vai ler notícias por somente meia hora após o almoço, não vai gastar horas com isso", disse a cientista.
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Sheyna Gifford, física norte-americana que ficou 366 dias em uma base da NASA dedicada a treinamentos de missões espaciais, concorda com Possnig, mas entende quem não gosta muito de cronogramas. "Está tudo bem. Tente encarar seu dia como um jogo. Pense: 'Em qual fase estou hoje?'. Talvez seja necessário não fazer coisa alguma. Deixávamos tudo de lado uma vez por mês, durante algumas horas, e era incrível", afirmou.
2. Encontre um hobby
Possnig também se dedicava a atividades prazerosas: "Ficávamos meses construindo uma muralha de gelo. Além disso, desenvolvi minhas habilidades com piano, aprendi a construir uma armadura romana de gesso, comecei a falar francês e italiano e ainda me arrisquei a escrever um livro".
Já Gifford e seus colegas se distraíam com arte, música e jogos, além de cortarem os cabelos uns dos outros e até replicarem a receita de um sanduíche de uma famosa rede de fast-food. Ou seja, também é importante ocupar a cabeça com algo que não tenha necessariamente um propósito prático ou educativo.
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3. Faça exercícios
"Considerando que o tempo que gastávamos no mundo exterior era muito limitado, precisávamos de uma alternativa. Atividades como ioga, zumba, pilates ou musculação são facilmente praticadas em casa. Elas ajudaram a mudar minhas perspectivas, auxiliaram no meu bem-estar físico e reduziram o estresse, o que me deixava mais relaxada", afirmou Possnig.
4. Seja paciente
Essa dica foi dada por uma astronauta. Cady Coleman foi para o espaço nada menos que três vezes, sendo que uma das missões durou 1 ano. Além disso, ela viveu 6 meses em uma tenda na Antártica. "Uma lição que aprendi é que você não pode escolher quem está a seu lado nesses momentos. Então, é perda de tempo desejar que os outros sejam diferentes", explicou.
E Possnig pondera que nem todo mundo está disposto a ceder: "Por isso é importante conversar sobre coisas irritantes abertamente e de maneira amigável. Quanto antes, melhor".
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5. Viva 1 dia de cada vez
Apreciar as coisas boas e lembrar que o isolamento vai acabar em algum momento é importante. "Tentar enxergar o presente me ajudou muito", disse Possnig. "Divida desafios em partes pequenas, como coisas que você pode fazer nas próximas horas ou durante a semana. Cada dia que você supera vai aumentar sua autoconfiança e a sensação de que você pode lidar com os fatos".
6. Mantenha contato
O filho de Coleman tinha 10 anos de idade quando ela embarcou em uma missão de 1 ano no espaço — e perdeu o aniversário dele. Para se manter próxima, a astronauta ligava para o menino todos os dias, ajudando o pequeno, inclusive, a fazer tarefas de casa. "Mantenha o maior contato possível com outras pessoas. Conversem coisas sérias e divertidas. Faça da maneira que for possível, com Skype ou WhatsApp", recomendou ela. "Ofereça palavras encorajadoras. Ensine e aprenda algo. Interaja de maneira significativa".
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7. Importe-se com algo além de si mesmo
"Tenha algo em sua vida que dependa da sua ajuda para sobreviver", aconselhou Gifford. "Há algo de mágico na experiência de ser responsável por uma vida, não importa quão pequena seja". De acordo com a física, se não for um animal de estimação, que seja ao menos uma planta. "Ainda que o mundo pareça pequeno nesses momentos, você é necessário aqui e agora, neste exato momento, para que a missão seja completada com sucesso; a missão de sobrevivência".
8. Aceite as coisas fora do seu controle
Gifford explicou que a parte mais complicada do isolamento não é o que você não pode fazer por si mesmo, mas a incapacidade de auxiliar o mundo fora dessa "bolha". Ela teve de se despedir da avó com uma mensagem entregue depois de seu falecimento. Um colega francês presenciou ataques terroristas no país e não tinha meios de descobrir se a família estava bem. Coleman chorou porque seu marido se esqueceu de comprar presentes de Natal para o filho.
É importante entender que cada um faz seu melhor. "Então o negócio é aceitar que nem tudo está sob seu controle e focar naquilo que você pode fazer", afirmou a astronauta.
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9. Foque o objetivo
Antes de partir para a missão espacial, Coleman ficou afastada da família por 2 meses. A única visita aconteceu perto do lançamento, mas por trás de uma parede de vidro. "Isso é realmente difícil. Para superar, precisei pensar na importância da missão e que era vital não ir para a Estação Espacial com um resfriado qualquer por ter dado um abraço em meu filho".
10. Procure o lado bom da vida
James Bevington, colega de Gifford, foi direto: "A vida é simples. Foque as pessoas que estão nessa com você. Você é capaz de criar seu próprio mundo todos os dias". Nadja Albertsen, pesquisadora dinamarquesa que também passou um tempo em Concordia, criou uma rotina de anotar cinco coisas boas que aconteciam a cada dia, mesmo quando se tratava apenas de uma gargalhada após uma piada.
"Uma coisa que percebi é que as pessoas estão ajudando, admirando e cuidando umas das outras, mesmo a distância. Ninguém está sozinho nessa, e se lembrar disso é importante", finalizou ela.
Fonte:Smithsonian Magazine
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