sábado, 4 de abril de 2020

Linha evolutiva humana acaba de ficar mais “emaranhada”

Como se a nossa linha evolutiva não fosse complexa o suficiente – e repleta de lacunas ainda por preencher –, eis que a datação e sequenciamento de proteínas coletadas de um fóssil acabam de torná-la um pouco mais emaranhada! O material analisado foi obtido a partir do dente de um hominídeo descoberto nos anos 90 em uma caverna na Espanha e guarda as informações mais antigas já obtidas de um de nossos ancestrais, somando entre extraordinários 772 mil e 949 mil anos. Além disso, os resultados da investigação desse fóssil acabaram acrescentando uma ramificação a mais na árvore genealógica da nossa espécie.

Tio-avô

O dente em questão foi descoberto juntamente com uma porção de fragmentos de ossos em 1997, em um local superconhecido por abrigar uma variedade de fósseis humanos, um sítio arqueológico chamado Atapuerca, no norte da Espanha. Nesse lugar foram encontradas diversas cavernas ao longo dos anos, como a Sima de los Huesos, e esse complexo reúne a mais antiga, abundante e rica coleção de evidências da presença de humanos na Europa.
Homo antecessor
Fonte:  Science Mag / MSF / Science Source / Javier Trueba / Reprodução 

Mas, voltando ao dentinho, ele foi coletado em uma das cavernas de Atapuerca, a Gran Dolina, com outros ossos que, juntos, apontaram que entre 5 e 6 hominídeos haviam residido (e morrido) naquele sítio há milhares de anos. Na época de sua descoberta, exames nos fósseis indicaram que eles pertenciam ao mais antigo ancestral humano a apresentar características faciais parecidas com as nossas e também surgiu a teoria de que essa criatura extinta poderia ter sido o ancestral comum dos humanos modernos e neandertais – assim como “parente” dos denisovanos.
Homo heidelbergensis
Fonte:  Human Origins - Smithsonian Institution / Reprodução 

Batizado de Homo antecessor, esse misterioso hominídeo disputava o título de espécie humana mais antiga conhecida com o Homo heidelbergensis, e só agora, depois do desenvolvimento de novas tecnologias e métodos para se estudar fósseis tão ancestrais, uma vez que o DNA não sobrevive por tanto tempo, foi possível resolver a contenda. A técnica usada foi uma chamada paleoproteomica – em que proteínas extraídas do dentinho foram sequenciadas e revelaram não só a idade do exemplar, como determinaram que o H. antecessor não é o tal ancestral comum, mas sim uma espécie “irmã” dele.

O sequenciamento de aminoácidos presentes nas proteínas coletadas a partir do fóssil foi comparado com o mesmo tipo de sequenciamento realizado com amostras de outras espécies humanas e o resultado indicou que, apesar das semelhanças físicas presentes entre humanos modernos, neandertais e denisovanos, o H. antecessor pertence a uma linhagem bastante próxima, mas distinta de hominídeos.
Espécie "irmã" de nosso ancestral comum com neandertais e denisovanos
Fonte:  Wikimedia Commons / E. Daynes / Reprodução 

Aliás, a presença dessas similitudes sugere que as características faciais presentes em nós, humanos, bem como em neandertais e denisovanos, surgiram muito antes do que se pensava. Além disso, pode que a análise do fóssil não tenha revelado desta vez quem foi o nosso ancestral comum e o dos nossos primos extintos, mas a técnica empregada nos exames poderá ser usada para ajudar a desvendar outros muitos mistérios da nossa intrincada história evolutiva.

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